Marina Carvalho divulga mais um trecho de "Diário de Rafaela Zambom"


Primeiro trecho divulgado da autora

Usou novamente sua coluna no blog na Novo Conceito para trechos de seus livros não publicados. No último dia 6 ela divulgou um segundo trecho de um de seus primeiros projetos, intitulado Diário de Rafaela Zambom. Confira:


Cabo Frio, 16 de janeiro de 2000. 5:00 da manhã            
Eu não consigo pegar no sono e como a minha cabeça está cheia de palavras, preciso escrever. A Paula está dormindo feito uma pedra aqui do meu lado, mas os acontecimentos de ontem à noite foram tão surreais que não dá para dormir assim, sem mais nem menos. Já repassei tudo o que aconteceu umas mil vezes na minha cabeça e ainda não consigo acreditar que era eu mesma, lá naquele banco, com o Pedro.

Depois que a gente saiu da lanchonete, precisei avisar à Paula que não ia assistir ao show. Ela ficou olhando para mim com uma cara de pateta, esperando que eu desse uma boa explicação. Mas quando ela viu o Pedro logo atrás de mim, ficou fazendo um monte de sinal maluco, tentando me mostrar que havia entendido tudo. Passei a maior vergonha, porque até uma criança teria percebido que ela estava jogando indiretas, que, por sinal, eram bem diretas. Tipo assim:

PAULA: Ah, é! - bateu a mão na testa. - Você não gosta de axé.

EU: Vou ficar ali perto da lanchonete. Encontra comigo lá quando o show terminar.

PAULA: Tem certeza? - detalhe que ela fez a pergunta para mim, mas olhando para Pedro. - Não prefere que o Pedro te acompanhe até em casa?

EU - vermelha feito um pimentão, fiz uma careta para ver se ela se mancava. Pelo amor de Deus, tem hora que eu acho que a Paula tem menos neurônios do que o normal.

PAULA: Tá, tá bom! Já entendi. Te encontro, então.    
          
Eu mereço. Com uma amiga dessa, quem precisa de irmão mais novo?

Àquela altura, eu já estava arrependida por ter concordado em deixar de assistir ao show para conversar com o Pedro. O que a gente teria para se falar?

EU: "Uau, que noite bonita!"

ELE: "É mesmo. Será que vai chover amanhã?"

EU: "Ih, tomara que não."

Mas a verdade é que o nosso diálogo não teve nada a ver com o clima. Já de cara percebi que o Pedro não tinha nada de metido. Só porque tinha uma aparência e tanto não significava que era bobo ou esnobe. Mas foi o que eu pensei antes. E então ele me desarmou. Porque o papo dele foi bom e ficamos falando de assuntos gerais, tipo faculdade, projetos para o futuro, preferências. Foi tudo mais ou menos assim (vou tentar escrever nossas falas na íntegra para eu sempre me lembrar dessa noite):

PEDRO: Você e a Paula são amigas há bastante tempo?

EU: Ih, desde bem pequenas.

P: Mas vocês são bem diferentes. Quer dizer, ela é toda eh... maluquinha, meio estabanada, tagarela. Já você - ele parou para pensar no que ia me dizer.

Fiquei supertensa, porque ele poderia dizer qualquer coisa: "Você é séria, fechada, carrancuda, chata, sem graça, estraga-prazeres, mal-humorada". Só que, graças aos céus, Pedro só falou:

P: É meio tímida.

EU: A Paula tem energia sobrando. Não preciso me esforçar, porque a dela serve para nós duas. Mas eu não sou tímida. Só não gosto de me expor à toa. E também não gosto de encher a bola de caras que já têm o ego grande.

P (de testa franzida): Por que seu conceito sobre mim é tão baixo? A gente ainda mal se conhece e você não perde a oportunidade de me criticar. Para a sua informação, eu não tenho o ego grande. Sou um cara normal.

EU (rolando os olhos para cima): Vai dizer que as garotas não vivem arrastando asas para você? E que você não gosta?

P: É verdade. A maioria parte para o ataque. Mas nem sempre é bom, considerando que eu quase nunca sei se elas estão a fim de mim por causa da minha pessoa ou por conta da minha aparência.

EU (bem irônica): Ah, coitadinho, isso deve ser bem difícil mesmo.

Pedro riu. E, sério, quando ele ri, as coisas ficam bem complicadas, porque ele ultrapassa a barreira de "lindo" para a "de tirar o fôlego". Imagine só: um cara alto (presumo que ele tenha quase um metro e noventa), com o corpo atlético (músculos definidos, barriga tanquinho, ombros largos), cabelos escuros, quase pretos, cortados sem muito estilo, olhos verdes (um verde profundo, não muito claro a ponto de parecer frio), queixo forte, com uma leve, levíssima covinha, quase imperceptível.

Eu estava a ponto de babar quando ele perguntou:

P: O que foi?

EU (fazendo uma cara blasé): Nada. É que você faz parecer que sua vida é muito difícil.

P: Não, não é. Mas nem sempre é boa, tipo agora, que eu não sei como convencer você de que sou um cara legal e confiável.

EU: Estamos a anos-luz disso.


Minha suspeita suspeita é que ela fez algum tipo de proposta com a editora - algo como se o Diário seria publicado se os trechos divulgados tiverem bom retorno. Vou deixar bem claro: isso é apenas uma especulação. Porém, por via das dúvidas, peçam mais trechos pra Marina Carvalho pelo Facebook ou Twitter.

Sobre Claudia Carvalho

É proprietária e autora do OUL. Interessada em literatura e ficção desde a infância, acredita que conhecimento existe para ser compartilhado.

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