A vida de Alma não foi fácil. Seu pai abandonou sua mãe, Jenna, quando era criança. Jenna se casou novamente e teve mais dois filhos com ele, Evan e Lina. E o padrasto se suicidou, sem motivo aparente. Desde então Evan se tornou um adolescente rebelde e fechado, e Lina nunca mais proferiu uma palavra. Para piorar, Alma sofreu um acidente de carro alguns meses atrás, onde morreram suas duas amigas de infância ─ ela saiu praticamente ilesa, com apenas um corte atrás da orelha, e carrega a cicatriz até hoje.
Afora esses infortúnios e terríveis dores de cabeça momentâneas, Alma tem uma boa vida.
Porém sua tudo muda quando ela decide, por puro impulso, comprar um caderno de capa roxa e uma caneta tinteiro de uma papelaria com um dono misterioso. A partir daí, Alma começa a ter pesadelos sobre assassinatos e a transcrevê-los no caderno durante o sono. E tudo que está lá escrito se torna realidade.
Morgan, seu colega de escola, começa a se aproximar dela. A garota sente algo diferente quando está com ele, mas desconfia ─ o belo rapaz loiro de olhos violeta parece saber muito mais do que diz.
Além de seus próprios fantasmas, a protagonista também precisa lidar com os problemas de suas amigas: Adam, o garoto com quem Seline estava saindo, divulgou um vídeo dela seminua no vestiário; Naomi está saindo com um cara estranho, que definitivamente não parece ser boa coisa; Agatha está evasiva e estranha que o normal.
Porque amizade é isso: respeito e confiança. Nada de grupos. Nada de chefes. Nada de estruturas. Escolher livremente as próprias companhias.
Qual a ligação de Alma com os assassinados premonizados em seu caderno? Morgan em algo a ver com isso ou é totalmente confiável? Será que ela pode contar com alguém, ou terá de desvendar o mistério por conta própria?
Elena P. Melodia é uma escritora italiana e reside em Verona. Se formou em Belas Artes e coordenou o departamento de ficção de uma grande editora. Escuridão, elogiado pela crítica especializada, é seu primeiro livro.
O destino colocou esse livro no meu caminho, só pode ser isso. Eu estava na Bienal do Livro de São Paulo, em 2012, quando eu e algumas colegas entramos no entramos no estande da Suma de Letras. Vi o livro, que custava R$ 5. Pela capa fiquei com receio de ser meio clichê, ou de não gostar. Li a sinopse e pensei "é, pode ser bom". As colegas e minha professora (beijo, Agrécia!) de português que estavam comigo na ocasião me incentivaram, e acabei comprando. E, meu Deus, que livro!
A história está longe de fazer parte da renca de clichês atuais (não que eu não goste de clichês, às vezes eles são legais, mas é bom ler algo diferente, para variar). Não tem triângulo amoroso, o romance fica em terceiro plano e a protagonista tem uma visão crítica sobre tudo que a rodeia. É uma adolescente que pensa e tem suas próprias opiniões.
Seline é o tipo "menininha": ingênua e doce, com pais ricos, espera sempre o melhor das pessoas. Vê em Alma a força e determinação que gostaria de ter e terá muita dificuldade para superar o resultado de tanta exposição.
De fato, acho que na verdade existem poucas pessoas incapazes de se vingar, assim como poucas são incapazes de mentir. Com frequência, reagimos ao sofrer uma desfeita. À ofensa corresponde uma defesa. Só isso. Mas o certo é que a vingança não nos ajuda a esquecer a desfeita, nem a apagá-la. No máximo, nos dá a sensação de reestabelecer um pouco de justiça. Mas o conceito de justiça também é, sempre e de todo modo, pessoal.
Naomi é descrita por Alma como uma leoa ─ não se sente inferior em relação a amiga para glorificá-la ou ao ponto de invejá-la. Mas não é tão esperta, e vai acabar se metendo com gente que não deve.
Agatha é uma incógnita. Perdeu os pais num acidente de avião e acabou tendo que morar com a tia, que sofre de câncer. Embora seja fechada até mesmo com as amigas, todos sabem que o maior medo dessa garota pobre é que a tia, sua única parente viva, venha a falecer, obrigando-a a ir para um orfanato. Até que ponto ela poderá aguentar essa pressão?
Morgan é um cara misterioso e lindo ─ seus cabelos loiros e olhos violeta intensificam ainda mais o mistério que parece envolvê-lo. Ele parece ter todas as respostas para as peguntas de Alma, mas não parece disposto a revelar nada.
Somos colocados à prova todos os dias, todas as noites, pela vida inteira. E cabe a cada um se rebelar ou se conformar com os acontecimentos, segundo a própria vontade. Já tem tanta coisa, até demais, que não podemos escolher... Nossos pais, por exemplo. Mas eles também não podem escolher os filhos.
O livro é italiano, mas é escrito de tal maneira que o cenário poderia ser qualquer país ─ até mesmo o Brasil. Alma tem uma visão de mundo só sua, muito crítica. Fiquei surpresa ao descobrir que vários leitores veem o modo dela de pensar como arrogância. Não acho a acho arrogante. Muito crítica, talvez, mas arrogante? Bem, cada qual com a sua opinião. O fato é que ela quer resolver os problemas de todos ao seu redor, inclusive evitar que os assassinatos que ela prevê se concretizem.
Destaque aqui para a irmãzinha de Alma, Lina. Ela é um amorzinho, e parece sem bem inteligente. Às vezes temos a impressão de que ela sabe muito sobre as coisas.
Só não gostei da capa da edição brasileira. A capa original de Buio é muito melhor.
Uma história de suspense muito bem construída, embora apenas algumas perguntas sejam respondidas. Os mistérios mais profundos são desvendados em Sombra.
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