Nicholas Sparks cria produtora e investe além da adaptação dos próprios livros

Adaptação de A Escolha é a primeira produção independente.



Antes de conseguir negociar seu primeiro romance, 20 anos atrás, Nicholas Sparks ganhava a vida vendendo equipamentos dentários e produtos farmacêuticos para empresas do ramo. Dezenove livros - dez deles transformados em filmes -, e mais de cem milhões de cópias vendidas depois, o escritor americano pode se dar ao luxo de expandir seu campo de atuação, agora como produtor de cinema e televisão, através da Nicholas Sparks Productions. Fundada três anos atrás pelo autor de Querido John, best-seller que virou um hit do cinema lacrimogêneo em 2010, a produtora lança, no ano que vem, o filme A Escolha, o primeiro projeto independente da companhia, baseado em seu best-seller de 2007.

Produzir não é exatamente uma atribuição nova na trajetória profissional de Sparks, que se formou em Finanças antes de publicar Diário de uma Paixão, seu primeiro romance, que rapidamente escalou a lista dos mais vendidos do New York Times em 1996. O escritor sempre atuou muito próximo das adaptações de seus livros para o cinema, desde a primeira, Uma Carta de Amor (1999), de Luis Mandoki, cujo roteiro foi inspirado em seu segundo romance, lançado nos Estados Unidos em 1998 — o filme arrecadou cerca de US$ 119 milhões ao redor do mundo. A mais recente delas é Uma Longa Jornada, de George Tillman Jr., elaborado a partir do livro homônimo, lançado no Brasil em 2013 pela editora Arqueiro, e já está em cartaz no Brasil.

"De uma forma ou de outra, estive envolvido em todas as adaptações de meu livros, seja no acompanhamento do desenvolvimento do roteiro, na escalação do elenco, dando sugestões no set, em diversos processos da produção, enfim. Até por isso mesmo, eu os assino como produtor associado. A produtora, então, é apenas o passo seguinte nessa função, uma forma de formalizar", explica o escritor de 49 anos em entrevista ao GLOBO. Normalmente, os escritores vendem os direitos de um livro e não são convidados a participar da realização. Eu me considero afortunado de ter estado por perto dos filmes que nasceram de minhas criações e de ter trabalhado com gente muito interessante em todos eles."

Dirigido por Ross Katz e protagonizado por Benjamin Walker (Abraham Lincoln — Caçador de Vampiros) e Teresa Palmer, A Escolha descreve o desafios que colocam à prova o relacionamento entre dois jovens que se conhecem em uma cidade costeira americana. Mas as ambições da Nicholas Sparks Productions vão além das adaptações de livros do escritor. Deliverance Creek, o primeiro telefilme produzido pela companhia, que foi ao ar pelo canal a cabo Lifetime ano passado, é um drama de época ambientado durante a Guerra Civil americana (1861-1865) sobre uma viúva (Lauren Ambrose) que tenta defender os filhos e as terras da família de banqueiros corruptos. Os filmes produzidos por Sparks têm algo em comum com seus livros: falam de paixão, por alguém, por alguma coisa, por uma causa.

"Minha ambição é explorar o conceito de amor, e não necessariamente o amor romântico, de diferentes facetas possíveis. E nem todas elas terminam com um final feliz", diz o escritor, que criou uma fundação que leva o seu nome em 2011, que apoia causas relacionadas à formação e educação de jovens. "Todas as grandes histórias de amor, ou que envolvem paixões, por definição, são marcadas por tragédias: alguém morre, um relacionamento promissor termina, há sempre um lado triste nelas. É a natureza da vida, e ela não é perfeita."

Potencializada pelo cinema, a fórmula do “quanto mais olhos úmidos, melhor” continua rendendo dividendos ao escritor e produtor. Seu único fracasso, como produtor, é o filme O Melhor de Mim (2014), dirigido por Michael Hoffman a partir do livro homônimo que faturou US$ 35 milhões nos Estados Unidos, valor um pouco acima de seu custo, US$ 26 milhões. No Brasil, as adaptações de seus livros registram altos e baixos mais agudos: enquanto Diário de uma Paixão e Noites de Tormenta (2008) atraíram 235 mil e 358 mil pagantes, respectivamente, outros, como Querido John e A Última Música, lançados em 2010, não chegaram aos 50 mil espectadores.

"Muitas vezes, o leitor toma conhecimento dos meus livros por intermédio dos filmes, e aí vai procurá-los nas livrarias", observa Sparks, lembrando, com orgulho, que chegou a assinar mais de mil exemplares de Uma Longa Jornada, em uma única sessão de autógrafos, durante a 16º Bienal do Livro do Rio de Janeiro, em 2013. "Os meus fãs brasileiros são muito dedicados, diferente dos admiradores de outros países. Em grupo, são intensos, entusiasmados, quase promovem um tumulto para chegar perto da mesa de autógrafos. Chegaram perto de derrubar a porta do espaço em que distribui autógrafos, em um shopping do Rio! Mas, quando os encontros um a um, separadamente, demonstram carinho e delicadeza maravilhosos."


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Sobre Claudia Carvalho

É proprietária e autora do OUL. Interessada em literatura e ficção desde a infância, acredita que conhecimento existe para ser compartilhado.

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