#Resenha "Quando as Sereias Choram", de Mirella Ferraz

Liban é uma jovem de 19 anos, que vive numa vila costeira a leste da Grécia,  no ano de 855 d.C. Qualquer um que a visse ocasionalmente diria que ela é uma garota normal, com longos cabelos negros, mas quem convive com a moça não a acha nada normal. Não tem amigos, está sempre sozinha e passa o dia inteiro no mar.

Afinal, ela não é como as outras meninas comuns. Quando sua mãe grávida, junto com seu irmão, tio de Liban estavam num pequeno barco, em direção à terra na qual se fixaram posteriormente, a embarcação fora atingida por uma tempestade,  que acabou lançando a mulher ao mar, em pleno trabalho de parto. Progenitora e filha teriam se afogado, se não fosse uma ajuda inesperada: uma bela sereia loira aparecera para ajudar a mãe a dar à luz, abençoara a pequena Liban e salvara suas vidas. Desde então a menina sente uma profunda ligação com as águas salgadas.

A poucos ano sua mãe falecera, deixando-a com um tio que a odiava profundamente. Cansada dos maus tratos, resolveu juntar-se a ela, a única pessoa que a amava, se atirando ao mar. Foi quando conheceu um golfinho, o qual batizou de Ulisses. E decidiu que, dali em diante, viveria para aquela inusitada amizade.



O que você precisa entender é que o masculino não precisa subjugar o feminino para se sentir também forte, mas quando uma mãe é renegada e machucada, a natureza chora, pois é dela a vida que se inicia e é com ela que estará sempre ligada.

Paralelamente...

O viking Ivar está profundamente irritado. Na ausência de seu tio e tutor Ragnar, ordenara um ataque precipitado a um mosteiro sutil e fortemente guardado, o que resultou em várias baixas para o exército, inclusive na morte do irmão de seu melhor amigo, Seawulf. Depois dessa mancada, Ragnar lhe tomara suas armas e colocara o sobrinho no comando de mísero navio de comércio, a fim de que eles providenciasse suprimentos numa aldeia que se localizava após o porto de Roma, à leste da Grécia. Lá ele conhece a geniosa e belíssima Liban. Sabe que é uma cristã, e deveria odiá-lá como a todos os outros de sua laia, mas algo emana da garota que o intriga e o atrai. Algo que não existia nas mulheres que ele já conhecerá.

Liban sabe muito bem quem são os vikings: demônios violentos, que matam sem dó nem piedade, só para pegar o que querem. Destroem e saqueiam vilas, estupram mulheres e fazem cidadãos livres de escravos. Os pagãos nortistas deveriam ser seus inimigos. Ainda o troglodita arrogante Ivar. Mas não há como negar que sua beleza exótica e seus belos olhos azuis mexem profundamente com ela.

Dois inimigos. Dois amantes. Um lugar em comum - o mar. Tudo está nas mãos do destino.

Mirella Ferraz é uma sereia profissional. Ela faz trabalhos em grandes aquários e já apareceu em Sereias - O Segredo das Águas e Quando as Sereias Choram vários programas de TV. Apaixonada pela literatura, resolveu unir suas paixões, o que resultou nos livros 

Admito que, inicialmente, a capa do livro não me chamou muita atenção em relação ao "Sereias". Ela ilustra maravilhosamente o livro como um todo, mas não aceitei muito de primeira. Não faço ideia do por quê. Coisas da mente.

Ainda não tinha lido nenhuma das obras da autora quando realizei uma entrevista com ela, pelo canal BookFace no YouTube. Sabia coisas básicas a respeito dela, e pesquisei para formular as perguntas. Foi a minha primeira entrevista, e fiquei supernervosa! Mas acho que a Mirella nem percebeu... Enfim, não compraria esse livro se não a houvesse conhecido. Linda, simpática, fofa... um amor de pessoa. E também transmite energia positiva que nunca vi igual! Parece que seus poderes de sereia me convenceram a dar uma chance para Quando as Sereias Choram. E não foi tempo perdido!

Liban é uma menina com pensamentos completamente à frente de seu tempo. Ela questiona as coisas ao seu redor (incentivada por sua mãe), e nos faz perceber como podemos ser facilmente manipulados. Naquela época isso era ainda mais fácil, visto que não haviam as fontes de informações que hoje estão ao nosso alcance. Mirella a coloca em situações conflitantes, e muitas coisas lhe são cobradas. Mas a nossa protagonista não é alienada, tem espírito bravo e coração forte. Liban é incrivelmente apaixonante.

Os olhos humanos se voltam cada vez menos à natureza que os cerca. [...] E com essa arrogância, ao invés de sustentarem o olhar à frente, contemplando as matas ou os mares que os nutri, os abriga e os abraça, elevam a cabeça para procurar desesperadamente por respostas do alto, do céu. Sendo dessa forma, com a cabeça levantada, costumam não prestar atenção ao que está ao redor, ao que faz parte intrinsecamente deles, mesmo que neguem, criando então uma cegueira prepotente a tudo que não seja, ou que eles acreditam que não seja... humano. E tudo, cada vez mais, perde a razão de existir se eles acreditarem que não lhes traz benefício. 

Ivar é... Ivar. Imagine o deus Thor - sim, pode ser o Chris Hemsworth -, com temperamento e trajes vikings. Esse é Ivar. Corajoso destemido, um tanto selvagem e maravilhosamente lindo. Também tem pensamentos evoluídos, porém seus questionamentos não chegam aos pés dos de sua amada, que o faz refletir sobre si mesmo e sobre a vida que leva. Os dois tem espírito livre e corações corajosos. Se quisessem, poderiam facilmente ser os donos dos mares. O amor deles se prova maior que qualquer artimanha do destino.

Poderia ficar dias descrevendo quão hipnotizantes são os cenários criados por Mirella Ferraz, mas vou parar por aqui, se não vou acabar vazando spoilers.

Quando as Sereias Choram é um romance sexy, envolvente e cheio de aventuras, criaturas místicas e tabus.

Classificação
Maravilhoso

Sobre Claudia Carvalho

É proprietária e autora do OUL. Interessada em literatura e ficção desde a infância, acredita que conhecimento existe para ser compartilhado.