Divergente, Jogos Vorazes, Crepúsculo: Por que os adolescentes amam?


Sucesso desde o lançamento das obras que as inspiraram, as franquias Divergente, Jogos Vorazes e Crepúsculo são a nova paixão dos adolescentes atualmente. Curiosamente, as três tramas giram em torno de jovens heróis reunidos em núcleos ou clãs que juntos batalham contra as ameaças do mundo.

Será justamente este traço comum entre as tramas o que tanto atrai a atenção do público jovem? Segundo o professor Caio Feijó, especialista em Psicologia da Infância e da Adolescência, o grande apelo destes filmes com seu público é justamente a identificação com a busca por identidade que todo mundo passa nesta fase da vida.

Quer saber por que Divergente, Jogos Vorazes e Crepúsculo fazem tanto sucesso com o público adolescente? Confira abaixo na entrevista com o psicólogo Caio Feijó.


Na trama de Divergente, Beatrice completa 16 anos e tem que escolher a qual das diferentes facções que controlam sua cidade, uma Chicago futurista, prefere se unir. No mundo real, é também nesta fase da vida que começamos a buscar nossos grupos de identificação?

Começamos a buscar nossos grupos de identificação ainda na primeira infância, lá na creche, quando nos relacionamos com as crianças que temos mais afinidade. É um processo comum que indica a necessidade de ser compreendido e mesmo aceito. Isso cresce no quesito exigência à medida que vamos amadurecendo e se estende por toda a vida. Na velhice, por exemplo, ainda escolhemos nossos grupos de identificação, além de manter aqueles que acreditamos ainda nos servir.

No filme, a protagonista abandona sua família de sangue para encontrar um novo lar no grupo denominado Destemidos, onde descobrirá sua verdadeira identidade. Como esta sensação de controle sobre a própria vida pode ser associada ao período da adolescência?

É comum que alguns jovens, geralmente objeto de coerção dos pais, optem por romper as regras se envolvendo com grupos de comportamento contrário ao da família. O motivo principal é a sintonia com a proposta do grupo na adolescência, que representa esta busca pela individualidade. Então, quando têm oportunidade de escolha, rompem com os escrúpulos familiares para se envolver com aquilo que lhes parece mais estimulante.

Nos últimos anos, outras franquias como Jogos Vorazes e Crepúsculo arrebataram o público infanto-juvenil com tramas semelhantes à Divergente. Em todos os filmes, seus protagonistas são obrigados por algum fator externo a escolher 'de que lado da história' preferem ficar. Por que histórias que abordem este tema encantam tanto os adolescentes?

Escolher um lado, dentro de qualquer contexto, requer coragem e personalidade. Estas são duas das características que mais nos atraem quando somos jovens porque representa a quebra de paradigmas. Em filmes assim, geralmente os protagonistas se destacam em comparação aos demais porque conseguem sair da mesmice, são ousados e por isso obtém sucesso. Esta é a receita para qualquer jovem que queira se destacar, ou mesmo ser aceito em seu grupo.

Em Crepúsculo, vampiros e lobos digladiam durante toda a franquia até descobrir que juntos são mais fortes do que as forças externas. Em que medida isso pode ajudar a conscientizar o público jovem a aceitar diferenças e promover a transição entre diferentes universos?

Este tipo de resolução que o filme aborda é exemplo perfeito para dois dos primeiros pontos da teoria da Síndrome da Adolescência Normal, formulada pelo do psiquiatra Mauricio Knobel (1923–2008). Nela, o adolescente passa por um processo denominado aquisição da tendência grupal, que busca na integração de grupo aliviar as ansiedades em relação à própria falta de referências sobre a vida. A transitoriedade também está muito presente neste momento, já que é quando começamos a entender as diferenças e, assim, ampliamos nosso respeito a elas.

Polarizar as relações em sociedade pode provocar algum tipo de influência na maneira como estes jovens se relacionarão quando adultos?

Com certeza. Precisamos aprender a olhar para a polarização como algo positivo também, que tem a ver com a personalidade e identificação do jovem na sua escolha, quando ele se posiciona diante do que acredita. É sabido que quem escolhe várias opções pode acabar em cima do muro.

De que maneira filmes que defendam a união das diferenças por uma causa maior podem incentivar a quebra de barreiras na adolescência?

Quando o jovem se identifica com enredos de filmes que apontam para causas sociais, que propõem transformações pró-crescimento humano, seguramente teremos valores postos a prova, o que liga um interruptor de alerta para o que se está fazendo da vida. Ainda assim, esse mesmo jovem também cometerá escorregões nessa fase, que é repleta de condutas contraditórias e experimentações constantes.

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Sobre Claudia Carvalho

É proprietária e autora do OUL. Interessada em literatura e ficção desde a infância, acredita que conhecimento existe para ser compartilhado.

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