Resenha: "Era Uma Vez Minha Primeira Vez", de Thalita Rebouças

Em Era Uma Vez Minha Primeira Vez, as amigas de infância, agora já adultas – Teresa, Clara, Fernanda, Tuca, Patty e Joana – relembram, num reencontro na festa de aniversário de um ano de Bela, filha de Joana, como foi a primeira vez de cada uma e as histórias por trás desse marco na vida delas.

O livro se divide em sete pequenas partes (a obra é finíssima, só tem 166 páginas!). A primeira parte funciona como um prólogo, onde elas se encontram na festa infantil e puxam as lembranças da primeira vez de cada uma. A partir daí, cada parte corresponde a história de cada menina.

A primeira a contar sua história é Teresa. Ela tem 16 anos, e adora ficar. Faz o estilo pegadora, nunca quis namorar ninguém, e prometeu a si mesma que não se apaixonaria antes de fazer 18 anos, afinal, amar é o mesmo que sofrer. Mas até parece que dá para cumprir esse tipo de promessa! Quando o filho da melhor amiga de sua mãe, o sem-sal Gaspar retorna ao Brasil depois de passar anos estudando nos Estados Unidos, ela é obrigada a fazer cara bonita e sair com sua família e a do dito-cujo para uma churrascaria, para comemorar a volta do rapaz. Mas qual não foi a sua surpresa ao perceber que o Gaspar sem-sal, depois de uma temporada fora, voltara lindo, divo e maravilhoso? Eles se conhecem melhor – afinal haviam mudado muito com o passar do tempo – e, durante um encontram, se beijam. A química é evidente, e deixa Teresa com “gostinho de quero mais”. Porém depois do beijo, o gato solta uma bomba: ele tem uma namorada nos EUA, e estão praticamente noivos! Porém o que rolou entre os dois o deixa confuso.

Teresa espera, mas o cara não liga no dia seguinte. Nem no seguinte ao seguinte, e nem no próximo. Gaspar sumiu da vida dela. E o pior é que a mais “fácil” do grupo está... apaixonada! Ela fica muito triste com o sumiço do cara, e se afunda no chocolate. Será que o primeiro amor da Teresa é platônico? O final dessa história vai te deixar com a cabeça nas nuvens!

Clara também tem 16 anos, e é gordinha assumida. Porém, apesar de ela se importar com seu peso, seu namorado Cabelo, um músico megafofo, não liga, pois adora mulheres “carnudas”. Cabelo é compreensivo, parceiro, bonito e paciente. E ela sabe que as meninas fazem fofocas maldosas, do tipo “o que ele viu naquela gorada?”, e se sente mal com isso, embora finja o contrário. Seu namorado não cai nessa, e faz questão de mostrar para todo mundo o quanto a ama. Mas, além das recalcadas de plantão, ela ainda tem que lidar com a reprovação dos pais. Os pais do Cabelo são legais e aprovam o relacionamento. Mas numa coisa as duas famílias concordam: nada de privacidade para o casal. Com toda essa marcação, a primeira vez da Clarinha rola, ou não?

Tuca é o que se pode chamar de garota-nada-pé-no-chão. Isso porque ela está sempre atrás do namorado ideal e, como não confia de cara nos meninos e é exigente demais, aos 18 anos continua virgem.  Também tem autoestima baixa quando se trata de relacionamentos, e tem o corpo praticamente sem curvas – tanto que, graças ao conselho de seu namorado de três meses, Suzano, fez alguns bicos como modelo.

Suzano também é modelo, vindo do sul do país, divide um apê com um colega de profissão. É um ótimo namorado, porém vive insistindo para que Tuca concorde em avançar no relacionamento, o que significa... a primeira vez! A garota nega bravamente, pois tinha pânico de abordar o assunto camisinha e de engravidar! Será que ela vai conseguir superar seus medos e ir adiante com o relacionamento?

Fernanda tem 15 anos, e namora Vinícius, de 18, há mais de oito meses. Mas quando Nanda pensa em perder a virgindade só consegue lembrar da sua enorme e nojenta marca de nascença, que cobre quase toda a extensão de sua nádega direita, que o Vina nem sonha que existe. Será que a sensível Fernanda, depois de seu aniversário de 16, vai conseguir superar essa neura?

Patty, apesar de ter 19 anos, sonha que sua primeira vez seja... bom, que não seja. Talvez pela falta de diálogo em sua família, ela não lida bem com a questão sexo. Nem se refere a sexo usando a palavra sexo, e inventa mil apelidos para os órgãos genitais. E ela não tem nenhuma expectativa. Deixar de ser virgem não é importante para ela. Afinal, não ser virgem dá muito mais trabalho do que ser virgem – não precisa ir tanto ao ginecologista, nem tomar anticoncepcionais etc. Preferia mesmo casar virgem. Mas nem tudo ocorre como planejado. Uma super reviravolta a espera!

Já Joana é mais nova, tem quinze anos, e é a mais bonita do grupo. Loira artificial estilo Marilyn Monroe, nunca conseguiu um namorado. De que adiantava ser bonita se ninguém a aguentava por mais de duas semanas? E ser superexigente e se preocupar que o cara saia espalhando boatos maldosos sobre ela também não ajudam muito. Com todos esses empecilhos, como será a primeira vez da Jô? Final digno de conto de fadas na última parte do livro.
Thalita Rebouças

Thalita Rebouças, como já é de seu estilo, aborda uma narrativa leve e simples para tratar de um assunto que muitas vezes é tratado com tabu: sexo e a idade certa para a primeira relação amorosa.

Sou apaixonada pela Thalita desde o primeiro livro que li – Fala Sério, Pai! – e simplesmente não consigo
resistir às suas histórias e me apaixonei pelas suas obras. Tanto que – ok, pode parecer bobo – mas a imagino como uma espécie de fada-escritora, metaforicamente. Enfim, penso que os livros da carioca são mais que ideais para adolescentes, já que falam de assuntos de interesse dos jovens, com um enredo leve e recheado de humor. É uma boa pedida para quem não curte muito os livros.

Apesar de o livro ser muito bom como um todo – amei a imagem da capa e as personagens! – muitas coisas poderiam ser melhoradas. Algumas vezes a autora se perdia no meio da própria história, fugia do tema e mudava de assunto bruscamente. Como é o caso da parte da Tuca. Ela começa na página 81, mas a história acontece mesmo a partir da 93! E começa de repente. Num parágrafo ela está falando sobre suas fantasias, e no seguinte está saindo do cinema com o namorado. Juro que fiquei perdida. “A Tuca disse que eles estavam no cinema?”, perguntei. Voltei o capítulo todo, só para ver que a Thalita cometeu um gravíssimo erro, esquecendo de dar uma “introdução”. E nessa confusão, acaba que a história da Tuca, tirando toda a enrolação, só tem oito páginas. Acredito que seria melhor se as histórias fossem contadas em livros diferentes, um para cada garota. Ficaria menos exaustivo.

Além desse erro, o livro acaba com a Joana dizendo como está sua vida hoje e... fim. Elas não “voltam” para a festa, nem nada disso. Você termina de ler a história da Jô, e pronto, acabou. Acho que deveria ter sido melhor finalizada, com um “epílogo”, por exemplo.

Mas esses erros não depreciam muito a obra, não incomodam totalmente, só impliquei com eles porque sou um tanto perfeccionista e não gosto de muita enrolação nos livros. Bom para quem gosta de livros curtos. Também tem ótimos cenários. Meu preferido é a cachoeira no meio da floresta na parte da Teresa.

Não é um dos melhores livros da autora, mas é um bom livro. Recomendo para meninas pré-adolescentes/adolescentes que tem neuras em relação à primeira vez.

Classificação
Bom

Sobre Claudia Carvalho

É proprietária e autora do OUL. Interessada em literatura e ficção desde a infância, acredita que conhecimento existe para ser compartilhado.

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