Entrevista de Louisa Reid ao blog Magia Literária


Esse mês o blog Magia Literária realizou uma entrevista com a escritora de Corações Feridos, Louisa Reid. A autora foi supersimpática e se mostrou muito feliz pelas boas críticas brasileiras de sua obra. Confira:


"Eu não sei quem sou." Essa é a resposta de Louisa Reid quando pergunto quem ela realmente é. Ela diz que "essa é uma pergunta muito filosófica, que requer uma resposta muito intelectual" e completa dizendo que ela é apenas "mãe, esposa, escritora, professora de Português. E sou muito ocupada e preguiçosa ao mesmo tempo." 

ML: Louisa, seu primeiro livro foi publicado recentemente aqui no Brasil. Na minha resenha, eu disse que já li livros que me emocionaram, que me fizeram rir ou que me deixassem saudade. Mas  não consigo lembrar de nenhum livro que tenha me causado tanta admiração como Corações Feridos. Tenho que dizer que tive uma "ressaca literária" e passei três dias pensando sobre este livro e em como começar a resenha. O que as pessoas que ainda não leram o livro devem esperar?
LR: Wow, obrigada por falar isso em relação à Corações Feridos. Me surpreende que o livro tenha te encantado tanto - quando eu o escrevi, não pensava que alguém pudesse se interessar pela história, muito menos lê-la. Acho que as pessoas que ainda não leram o livro devem esperar ler algo que as farão sentir todos os tipos de emoções. Muitos leitores se sentiram com raiva ou frustados, eu acho, desejando que pudessem entrar no livro e salvar as gêmeas. Muitos outros se sentiram tristes e chocados.

ML: Sua narrativa nos passa muita realidade. Mesmo que você coloque o presente e o futuro das personagens no livro, nós ficamos chocados com o que é descoberto durante a leitura. Nós sentimos a dor das personagens e queremos abraçá-las e dizer "tudo vai ficar bem"(mesmo quando nós não sabemos se é verdade). Que mensagem você quis passar com o livro?
LR: A mensagem que eu esperava passar com o livro era que as aparências enganam. Só porque a aparência de alguém possa transparecer que ela é uma boa pessoa, não significa necessariamente que ela é. A verdadeira força motriz* na história foi como nós valorizamos a aparência em relação à verdade. Esta realidade tem estado presentes nas casas aqui no Reino Unido desde o ano passado, assim como tantos outras incidências terríveis de abuso infantil nas mãos dos chamados "celebridades" tem surgido..

ML: Eu li em seu site que a ideia de Corações Feridos ficou em sua mente por décadas. Quando foi que a ideia surgiu?
LR: Eu tive uma premissa do livro quando estava sentada em uma lanchonete, minutos antes de um passeio escolar para um teatro. Eu anotei os principais elementos, personagens e situações - depressa - e retomei a ideia um tempo depois. Mas eu sempre me interessei por gêmeas e casais e acho que vem de narrativas de época realmente convincentes.

ML: Uma das gêmeas, Rebecca, sofre da Síndrome de Treacher Collins. Quem ou o que te inspirou a escrever sobre isso?
LR: Eu vi um documentário aqui no Reino Unido sobre um homem com a Síndrome de Treacher Collin e ele era realmente inspirador. Ele sofreu bullying na escola por conta de sua aparência, mas nunca deixou isso interferir em sua vida, ele trabalha em busca de mais tolerância e visita escolas palestrando para as crianças sobre como ele se sente por ter o rosto desfigurado. Ele é uma pessoa realmente valente para mim. Outra coisa que me deixou fascinada em sua história foi que seus pais o deram para adoção quando souberam da síndrome. Isso me fez pensar sobre as relações familiares e me aconselhou a como escrever sobre as atitudes que os pais de Rebecca tem em relação à ela.

ML: Você dedica o livro "para aqueles que já se sentiram diferente", e nos Agradecimentos do livro, agradece à suas irmãs. Como é sua relação com elas? Você já se sentiu diferente de alguém ou em algum lugar?
LR: Eu acho que todo mundo se sente intruso em um lugar em algum momento de sua vida e para muitos de nós, é como um degrau que devemos subir para encontrar nosso verdadeiro eu. Quando tinha 11 anos, eu comecei a mudar de escolas; eu não conhecia uma pessoa sequer na minha nova escola e me senti incomodada e constrangida por muito tempo. Por acaso, acabei ganhando um novo grupo de amigos e me estabeleci, mas o sentimento de não fazer "parte da turma" me causou muito impacto - positivo e negativo. Minhas irmãs, Emily e Margaret, apoiam muito minha escrita e são muito boas amigas também. Elas leem tudo que eu escrevo e me dão muitos conselhos  e eu confio na opinião delas. Eu tenho outra irmã, Felicity, que também é maravilhosa porém não é uma leitora voraz como as outras duas.

ML: Você colocou algum acontecimento de sua vida no livro?
LR: Eu acho que Hephzi e Rebecca tem aspectos meus - o lado inteligente de Rebecca é similar ao meu, e a rebeldia de Hephzi também é algo que eu tenho. Mas sobre os acontecimentos de suas vidas, eles são bem diferentes da minha. Enquanto Rebecca era privada de ler livros, eu cresci em uma casa que era repleta deles, enquanto Hephzi foi impossibilitada de conhecer o mundo afora, eu pude sair, me divertir e me meter em encrencas.  Eu acho que os sonhos românticos de Hephzi são meio parecidos com os que eu tinha na adolescência. Eu achava que os meninos eram tudo!


Capa Nacional do livro Corações Feridos

ML: Corações Feridos foi publicado em Setembro aqui no Brasil, e já tem muitas resenhas positivas. Você recebeu mensagens ou tweets de seus leitores brasileiros?
LR: Sim, tem sido incrível ver a reação dos leitores brasileiros e estou encantada que o livro tenha sido resenhado de maneira tão positiva. Eu recebi algumas cópias da edição brasileira de Corações Feridos e absolutamente amo a capa e os marcadores, é claro. 

ML: Você tem algum novo projeto em mente?
LR: Estou escrevendo outro livro no momento e eu estou torcendo demais para que seja publicado no Brasil também. Não posso adiantar muito no momento, ainda estou com medo!

ML: Louisa, muito obrigada por me conceder essa entrevista. Fiquei muito feliz em poder conversar com você e espero que possamos receber uma visita sua aqui no Brasil algum dia. Você pode nos deixar três mensagens? Para os leitores do blog, para os que desejam escrever um livro, e para os que alguma vez já tiveram o coração ferido.
LR: Para os leitores do Magia Literária: Muito obrigada por ler estar entrevista e por lerem Corações Feridos. Fico feliz de ter meu livro publicado no Brasil e por conhecer e conversar com leitores como você,  Mariana. Obrigada pelo apoio!
Para os que querem ser escritores: Continuem escrevendo. Quando mais você lê, melhor se torna a sua escrita. Eu leio muito, o máximo que posso, e para mim não há nada mais incrível do que entrar no mundo do livro que se lê. Eu também aprendo muita coisa com outros escritores também.
Para os que tiveram uma ferida no coração: Não tenham medo do mundo. Existe esperança e beleza em todo lugar e muita bondade nas outras pessoas.

RAPIDINHAS:
Se eu fosse um livro, seria: The Great Gatsby (O Grande Gatsby, no Brasil)
Se eu fosse um personagem, seria: Lady Macbeth (da tragédia shakespeariana, Macbeth)
Se eu fosse uma palavra, seria: Sarcástica
Se eu fosse outro escritor, seria: Joyce Carol Oates
Se eu fosse um lugar, seria: Alpes
Se eu fosse uma frase, seria: Shh, estou tentando ler!

:: Entrevista feita por: Mariana Mortani
:: Traduzido por: Mariana Mortani
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Nota da Escritora
*adj+sf 1 Feminino de motor. 2 Diz-se da, ou a força que dá movimento. (Michaelis)

Sobre Claudia Carvalho

É proprietária e autora do OUL. Interessada em literatura e ficção desde a infância, acredita que conhecimento existe para ser compartilhado.

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